sexta-feira, julho 28, 2006

RENOVAÇÃO








Num leve movimento de descida,
que a vingança encontre a minha carne,

que a tua mão firme e sensata segure
o demente punhal que em meu ventre arde.

Nesta tarde, repousa teu cansaço
que não mereço este amor e cuidado

(a que a tua vida se devota e te consome).

Como se nunca me tivesses amado,
mata-me breve, para tua sorte

ou como se ainda me amasses tanto
que a tua única liberdade fosse minha morte.


Nívia Maria Vasconcellos

TELA: "...PARA NÃO SUICIDAR". acrílico sobre gaze colada em papelão de sapateiro. 2006. Gabriel Ferreira
CAPA DO LIVRO DE NÍVIA MARIA VASCONCELLOS

RODA DE CHORÕES


RODA DE CHORÕES - AST - 2005 - GABRIEL FERREIRA
AOS MÚSICOS CHORADORES DO BAR ENCONTRO DOS AMIGOS (BAIRRO DOS CAPUCHINHOS EM FEIRA DE SANTANA-BA), ONDE, POR ALGUMAS VEZES TIVE A OPORTUNIDADE DE ACOMPANHÁ-LOS A LEVES "TAPAS" NO PANDEIRO E CERVEJA GELADA.
Soneto de Carnaval

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrando uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, julho 10, 2006

PAUSA PARA UM BEIJO


PAUSA PARA UM BEIJO

!
Pausa... para um beijo.

Moléculas musicais –
como a explicação para as sabidas coisas que não se vêem –
aqueceram além da decisão científica.

Ninguém pediu para que eu beijasse.
Embora, eu tenha beijado, ainda assim.

O beijo se recusou culpado,
ferido de outro beijo,
e um terceiro beijo desejou se permitir.

Você é bonita como a quebra de ritmo.
Como a cadência cuja melodia é a sensação apenas.
Vi, feio, o que me completa:
um beijo acusa o desejo (que quando espírito é supremo)
e, tão exato,
perde o álibi.

Este poema não beija nada
além do pensamento.
Não anseia mais nada além de lembranças.
Pois que o beijo se eternizou antes de definhar.
E tudo, agora, é pretensão.

Desejei o beijo antes da alegria.
Não inferia o que só agora sei:
o beijo é um vazio nos poetas férteis.

TELA: "PAUSA PARA UM BEIJO". AST. VÉSPERA DE SÃO JOÃO/2006 - GABRIEL FERREIRA