segunda-feira, novembro 27, 2006

A POÉTICA DO GINGADO





Para Bel, o capoeira da minha ficção.

a roda

pernas cortavam a dança alucinada dos capoeiras

tudo era força
agilidade dos olhos que pulavam
braços e cabelos que não respeitavam
a gravidade imposta aos humanos

eram negros fortes negros brancos capoeiras!

os homens

homens de todos os dias

operários trabalhadores construtores
de máquinas, imagens e martelos
com seus punhos unidos
ajoelhados pelo ritual

cruzam olhares vibrando palmas
cores amarradas pela cintura
gestos que desafiam o abismo

e todas as almas sentem o canto de pedra do berimbau

a dança

gingavam de todos os lados
ritmos e cores abraçavam-se no espaço

passos, compassos e um corpo no chão

o capoeira pula sobre todas as cabeças
e recomeça o gingado malandro
de outro canto da capoeira


Cleberton Santos.

ILUSTRAÇÕES DE GABRIEL FERREIRA PARA O LIVRO ESBOÇOS. NANQUIM SOBRE PAPEL CARTÃO. 2006.

CAPOEIRAGEM


Era o capoeira, então, um elemento das ruas, pois nela estava o seu sustento e o seu lazer. Era um personagem do cotidiano urbano que tinha que respeitar as regras do mundo que o subordinava e lhe era subordinado, o mundo das ruas. O tipo social de rua, ao qual pertencia o capoeira até meados do século XX, na capital baiana, não só seguia as regras de sobrevivências desse mundo indisciplinado, mas também as determinavam.

OLIVEIRA, Josivaldo Pires de. De capadócios das ruas a agentes culturais: um ensaio de história social sobre os capoeiras na Bahia (1912-1937). Monografia premiada no Concurso Silvio Romero. Rio de Janeiro: CNFCP/Ministério da Cultura, 2004.

TELA: NOVOS SERTÕES - A RODA. ACRÍLICO SOBRE TELA. CAPOEIRAGEM 2006. GABRIEL FERREIRA